Ter pai no Brasil é luxo

Ter pai no Brasil é luxo

Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontam que 5,5 milhões de crianças brasileiras não têm o nome do pai na certidão de nascimento

A pesquisa revela quão assustadora é a falta de responsabilidade social do brasileiro. Próximo domingo é dia dos pais e, junto com ele, vêm as campanhas publicitárias, as festinhas escolares (algumas escolas conservadoras & ultrapassadas ainda não aderiram ao Dia da Família, comemoração que celebra a família, não especificamente mães ou pais) e, provavelmente, pelo menos 5,5 milhões de crianças relembram de forma muito mais forte esse abandono nessa época. Não há para onde fugir.

 Bilhetinho escolar postado pela página "Diário de uma mãe solo" no facebook.

Feitas as devidas homenagens a quem realmente as merece, fica aqui nesse parágrafo todo meu respeito aos pais que são pais (parece bizarro parabenizar o óbvio- e é). Parabéns por serem exceção diante de uma estatística tão triste. No nosso país ainda é quase regra esse abandono paterno e existe muito mais de um a cada esquina.

O machismo é institucional. O ensinamento ao homem que uma criança (produzida por ele) não é tão responsabilidade sua quanto é da mãe começa desde muito cedo, quando meninos são proibidos das brincadeiras com bonecas, por exemplo. Coisa de menino é brincar de trabalhar, de ter carros, aviões, cavalos e por aí vai. Coisa de menina é brincar de casinha, de lavar, passar, fazer comidinha e ficar com as bonecas.

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Esse comportamento se repete até a fase adulta e resulta nos números acima citados. A brincadeira se torna mais real do que gostaríamos. Pior de tudo é ver como esses homens são acobertados pela sociedade e, por isso, mães estão cada vez mais sobrecarregadas e exaustas por carregarem sozinhas uma responsabilidade que foi gerada por dois.

Posso ilustrar: A reportagem recente do O globo que culpabiliza exclusivamente a mãe por uma educação errada.

 Descanse em paz, jornalismo

A nova música de Chico Buarque, "Tua cantiga", que é sucesso de crítica e público fala sobre o abandono paterno em forma de licença poética e tá tudo bem:

"Quando teu coração suplicar

Ou quando teu capricho exigir

Largo mulher e filhos

E de joelhos

Vou te seguir"

(ouça, ou não, aqui)

Poxa, Chico Buarque, que vacilo, cara. Abandonar filho não é ato heroíco baseado em romantismo, é somente escrotice mesmo. Assim não tem como te defender. 

A reportagem de Dia dos Pais da revista da folha que mostra o quanto a vida de homens não mudou em absolutamente nada depois que tiveram filhos, enquanto mães simplesmente precisam interromper seus planos e carreiras por conta da maternidade:

 Jair por exemplo anda de moto enquanto alguma mãe cuida de seus filhos

Repare que na matéria falta somente uma coisa nas fotos: os filhos.

São somente 3 fatos escrotos em um mar de fatos escrotos, mas posso citar rapidamente o termo "Pãe", que é usado pra definir uma mulher que é mãe solo. Porém, vale ressaltar que pai é pai e mãe é mãe. São dois papéis distintos com a mesma função, mas não existe mágica para fundir os dois em uma pessoa só.

Há (e como há!) também mulheres casadas com os pais de seus filhos e que assumem totalmente a responsabilidade da criação e cuidados com as crias porque a obrigação do marido e genitor que está sempre exausto é trabalhar fora e, em casa, descansar.

Eu sinceramente espero que ano que vem eu possa fazer uma homenagem bem bonita ao Dia dos Pais citando inclusive outros pais que não o meu. Mas esse ano, desculpa, mundo, não consegui.

 

Por Vitoria de Melo Bispo

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