Desculpa, sociedade, minha filha dá piti

Desculpa, sociedade, minha filha dá piti

Penélope grita. Grita quando está feliz. Grita quando está contrariada. Grita quando está brincando. Grita quando a gente diz que controle remoto não é brinquedo e tira da mão dela. Grita quando não quer entrar no carrinho. Grita quando quer que a gente largue o celular e preste atenção nela. Grita e, desde que completou uns 11 meses ela também se joga pra trás e, se possível, deita no chão enquanto abre o berreiro.

Nessa hora, não tem santo que ajude nem chupeta que resolva. A gente bota na boca, e ela cospe. Dá o brinquedo favorito, e ele vai parar no chão. Oferece água pra ver se ela se acalma, e o copo também voa longe.

Quem não tem filho, mas adora julgar as mães e as crianças, já olha com aquele olhar de reprovação, já diz que é "falta de educação", "os pais não sabem dar limite", "os pais não sabem dizer não", "os pais fazem os gostos". Se você é uma dessas pessoas ou conhece alguém que seja assim, atenção às palavras abaixo, porque elas são BOMBÁSTICAS.

Penélope tem 13 meses e já sabe dar piti real oficial.

  • Ninguém ensinou isso pra ela
  • Ela não viu na televisão
  • Eu dou limite à minha filha
  • Ensino o certo e o errado
  • Dou carão quando ela tá fazendo besteira
  • Sou a primeira a ficar incomodada e a achar ruim quando ela berra no meio da rua

Qual é o problema da minha filha, então? Nenhum, gente. Criança dá piti. Ela não tem maturidade pra lidar com tristeza, com frustração, com raiva de outra forma. São todos sentimentos novos, chegando sem avisar a um corpinho que é uma usina que trabalha a mil por hora e uma cabecinha que abriga milhares de novas conexões entre neurônios por segundo.

Mas sabe quem tem maturidade pra entender? Você! Você, que é adulto, que já foi criança, pode, em vez de olhar julgando, pode olhar com ternura, com empatia. Até pena serve. Pense assim: "Poxa, coitada daquela mãe, a filha tá dando piti, e ela tá fazendo o máximo que pode pra controlar, porque ela mesma tá achando péssima essa situação, todo mundo olhando, passando a maior vergonha".

 Em tempos de polarização e intolerância, é necessário ter cuidado, um olhar sensato sobre as coisas e, sobretudo, bom senso. A vida não é tão feita de maniqueísmos quanto a internet tenta mostrar – a direita e a esquerda, o rico e o pobre, a cesárea e o parto domiciliar, a maternidade e o childfree, a criança boazinha e a criança birrenta.

Entender um piti não significa gostar dele. Gostar mesmo ninguém gosta, nem você, nem os pais nem a criança. Mas estamos todos ali, tentando fazer passar. E passa. Entender significa abrir mão por uns minutinhos do seu bem-estar, quem sabe até ajudar a família que está ali em apuros. Choro de birra não demora a passar. Ele é violento, mas não tem grande fôlego. Vamos ser mais fraternos? Vamos.

E, por favor, não sejam estas pessoas:

P.S.: Em resposta à mãe de bebês "educados" de 4 meses: você vai pagar a língua. =)

Por Igormina

Voltar para o blog

Deixe um comentário