Rede de apoio à mães: entenda o que é ser parte disso

Rede de apoio à mães: entenda o que é ser parte disso

Era pra ser uma saída tranquila em busca da primeira roupinha de São João da minha filha, como precisei ir em uma hora que ninguém poderia ficar com ela, resolvi levá-la. Quando se tem uma criança, toda saída se torna uma grande aventura. A quantidade de vezes em que penso se vou mesmo sair com ela, somada ao número de pensamentos horríveis sobre possíveis catástrofes, certamente resulta num número maior que todas as previsões de fim de mundo que já ocorreram desde os Maias até hoje. Enfim, tudo certo com a roupinha. Hora de voltar pra casa.

Entro no táxi com Cora. 18h no trânsito caótico de Recife. Ficamos parados. Até que o taxista resolve quebrar o silêncio:

- Só tem ele?

- Só, sim. Só ela.

- Ah, é uma menina! Eu não tinha reparado. Ela é quietinha, né?

- Digamos que ela é tranquila sim.

- Eu tenho dois (filhos). Uma menina e um menino. A menina deu trabalho demais. Nossa. Chorava muito. Eu mesmo não tinha paciência. Pouquíssimas vezes fiquei com ela. Chegava cansado e dizia a minha mulher: "te vira, eu que não quero essa promoção", risos.

Suspendo o diálogo, engulo seco. Nessas horas, a empatia parece um coice, violenta, deixa a gente no chão. Imagina o puerpério dessa mulher? Imagina o quanto ela não sofreu ou sofre até hoje? Imagina, então, quantas milhares de mulheres não passam por isso porque filho ainda "é problema da mãe"?

Por conta desse episódio lamentável, resolvi falar sobre rede de apoio. Você não precisa ter mestrado, doutorado ou carteirinha VIP ou talento especial pra ser parte da rede de apoio de uma mãe. Especialmente se ela for solo. E ser mãe solo independe de seu estado civil, como vimos no exemplo acima da esposa do infeliz que dirigia o carro que me trouxe em casa. Opa, me excedi, perdão.

Ser parte da rede de apoio de uma mãe significa apenas ter, sobrando, duas coisas: empatia e boa vontade. Você pode ser amigo, parente, vizinho, conhecido, apenas ofereça ajuda. Se ela aceitar, ajude da forma como puder. Já tem o mundo inteiro interessado em curtir e achar lindos os bebês, mas poucas pessoas se importam com as mães por trás deles. Por isso, estenda sua mão e sua disposição. O que pode ser muito simples pra você, pra nós, pode ser o ponto alto do dia.

Existem mais de mil coisas simples as quais não conseguimos fazer quando nos tornamos mães, quem olha de fora talvez não entenda a casa quase sempre fora de ordem e uma mulher sempre exausta. É aí onde entra de forma tão fundamental a rede de apoio. Se te faltarem ideias, sugiro ajudar cuidando da casa, lavar a louça que só acumula, lavar as roupinhas do bebê que exigem cuidados especiais, fazer comida, ficar com o bebê um pouco enquanto a mãe vai fazer o que quer que seja, enfim, ser, de fato, um apoio. Alguém que auxilie de alguma forma em algum tipo de descanso, vai por mim, em vários dias, somente descansar é uma grande conquista.

Cada indivíduo no mundo tem necessidades específicas. Mães trabalham todos os dias nos feriados e não têm férias. Várias vezes não veem a semana passar, sábado ou segunda, tanto faz. Por isso, se você puder oferecer uma pausa nessa loucura, ofereça. Seja o ombro amigo, não seja a pessoa que pergunta exclusivamente pelo bebê. Por trás dele, sempre tem uma mãe insone, descabelada, às vezes doente e há muito mais o que perguntar.

Imagina que lindo seria se todo julgamento e culpa destinados às mães se transformassem em rede de apoio, carinho, solidariedade e compreensão? Sem medo de errar, eu digo que toda humanidade seria melhor.

Ao final da longa viagem, resolvi voltar ao diálogo:

- O senhor ainda é casado com a mãe dos seus filhos?

- Não, não. Sou separado.

- Ah, menos mal, né? Uma qualidade dessas de pai e marido é pior que um bebê chorando a noite toda. Ela hoje deve ser bem mais feliz.

Ele riu. Provavelmente continua sem entender nada: tanto do que eu falei, quanto sobre a vida.

 

*diálogo meramente real 

Por Vitoria de Melo Bispo

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