Duas listras, socorro, tô grávida

Duas listras, socorro, tô grávida

Começou com uma cólica no dia previsto da menstruação. Há três anos tomava o mesmo anticoncepcional, desde então não sabia mais o que era atraso. Final do dia e nada. Estava tranquila porque, né? Me cuidava. Claro que não tinha risco. Óbvio que não. Passaram mais cinco dias com a mesma cólica e nem sinal. Resolvi fazer um teste virtual de gravidez (tipo ridicularizando meeesmo a situação, porque na minha cabeça era impossível): "PARABÉNS, VOCÊ ESTÁ GRÁVIDA!!!".

Assim mesmo, falando alto e com muita euforia. Você deve estar pensando agora: "Claro que você esqueceu algum diazinho, vai" ou "Você não tomou nada que cortasse o efeito?" Não. Você já deve ter ouvido falar algo sobre 99% de eficácia do anticoncepcional, né?

Mas aquele 1%... aquele 1% sou eu mesma, prazer.

Mandei um print do resultado pro meu namorado, que não achou tão absurdo assim e tentou me trazer à realidade: "Olha, no final de semana vamo comprar um teste na farmácia...". Pensei: "O quê? Ele tá pensando que eu tô grávida? Que absurdo!". Voltando do trabalho, parei numa farmácia e comprei o teste.

Às 5:30h da manhã, o primeiro xixi do dia. Me senti uma estúpida por não entender como funcionava aquele troço tão simples, se aquela segunda listra tinha aparecido mesmo ou se era algum erro. "Se eu não consigo sequer entender essa porcaria, como eu posso criar um filho?". Peraí, segunda listra? Achei que tava dormindo ainda.

"Apareceu a segunda listra? E agora? Ah, não, mas não pode ser gravidez".

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Não consegui mais dormir. Fui correndo pesquisar o que poderia causar falso positivo, encontrei 8749 doenças. Me agarrei a uma. Putz, é isso, tô doente. Fiz mais 2 testes, inclusive um que apontava semanas: Grávida há 3 ou mais semanas, ali eu tive a certeza.

Estava doente. Só uma doença grave causaria um nível tão alto de alteração hormonal.

Protelei o máximo que pude minha ida à ginecologista (crianças, não façam isso em casa). Cheguei no consultório, a médica achou que era rotina. "Olha, não é rotina. Estou doente", falei. Contei meus "sintomas" e ela respondeu: "Quer menino ou menina? Vou passar aqui uma ultrassonografia, faça o mais rápido possível pra gente ver se está tudo ok".

Me lembro de sair flutuando da consulta, sem imagem e sem som. Corri pro laboratório mais próximo. "É o primeiro ultrassom desse bebê?", perguntou o médico. Nessa hora eu quis sair correndo. "Minha gente, que bebê?".

Sem a menor cerimônia, escuto um barulhinho rápido e ritmado, mas ninguém me diz que é o coração. Entendi sozinha e confirmei que por mais que eu tentasse sabotar uma possibilidade, era tarde demais. Eu estava grávida de seis semanas e quando ouvi o barulho do coração da minha filha pela primeira vez, entrei numa montanha russa de sentimentos. Chorei de emoção, de felicidade, de tristeza, de amor, de ansiedade, de angústia, de medo e de mais medo.

Aceitei ter o bebê mas demorei para aceitar a gravidez.

Quando você engravida, a sociedade fica mais feliz que você. Mas isso é assunto para outro texto.

Ah, e sabe a montanha russa de sentimentos que entrei quando ouvi o coração de Cora a primeira vez?

Então, nunca mais saí.

Por Vitoria de Melo Bispo

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