Crescer dói pra caramba

Crescer dói pra caramba

Após o nascimento da minha filha, todos os dias estou um bagaço. Mas hoje, sinceramente, estou apenas a fibra. Uma hora e dezoito da madrugada, ela dormiu há uns quarenta minutos e eu finalmente pude tentar organizar as ideias, respirar, e escrever.

As madrugadas têm sido difíceis, Cora está passando por muitas mudanças e isso torna o sono dela meio conturbado e o meu, consequentemente, um pouco impossível. Fazemos cama compartilhada (na verdade, ela compartilha a cama comigo), me sinto dividindo o espaço com um lutador de sumô várias vezes campeão, porque sempre acabo vencida, encolhida num canto e acordo com as costas doendo mais do que quando fui dormir.

Mas, já quando eu era uma mãe recém-nascida, li sobre os picos de crescimento ou saltos de desenvolvimento e isso me abriu uma janela de esclarecimento e compreensão.

Esses períodos ocorrem em idades parecidas para todos os bebês, e é comum que eles fiquem mais carentes, chorões, ativos, inseguros, famintos ou com fastio e inquietos (leia mais sobre isso aqui). Trata-se do desenvolvimento de novas habilidades e conquistas alcançadas. É perfeitamente normal que seu filho se sinta assustado, à procura apenas do que ele já conhece: seu colo.

Para atravessar essas fases, digamos, um pouco mais conturbadas, é preciso, acima de tudo, empatia. Antes de perder a paciência, se coloque no lugar do bebê. Talvez você lide um pouco melhor com situações que te coloquem em risco agora (escreve uma cartinha pra gente! Conta como é isso, porque o máximo que minha maturidade alcança nessas horas é um desmaio). Mas, quando crianças, não somos ensinados a repelir instintos. Não seria diferente com o medo. Crescer assusta.

Não queira que o bebê não chore, não perca a paciência, é difícil, eu sei, mas lembre-se que ele está pedindo socorro à pessoa que mais confia no mundo: você. Não tem muito segredo além de manter a calma, estender seus braços, dar muito carinho, passar segurança, atenção e amor.

Lembro que nos primeiros meses da minha filha, em alguns dias ela morava em cima de mim. Como se quisesse voltar pra dentro da barriga e eu a entendia muito. Deve ser muito estranho ir dormir enxergando turvo e acordar vendo várias coisas novas. Ouvindo novos sons. Que loucura nascer em um mundo novo todos os dias e acostumar-se com ele, pra no dia seguinte conhecer outro e depois outro e assim ser pro resto da vida. Não passa, apenas muda.

Dos cinco para os seis meses, Cora aprendeu a engatinhar, dois dentes terminaram de sair, veio a introdução alimentar e todos os dias ela deve descobrir alguma coisa nova que eu não devo fazer a mínima ideia. Logo, é normal que em alguns dias ela entre em parafuso, ora, eu entro por muito menos.

Hoje passamos por isso e eu me peguei pensando no quanto crescer dói. Até certa idade, fisicamente. Depois a dor muda, mas está ali. Crescemos à duras penas, quebrando a cara, errando, levando quedas, levantando, caindo de novo. É desse jeito que ganhamos centímetros em nossas existências.

Quando pude finalmente tomar um banho, me olhei no espelho e não me reconheci. Meu Deus, que figura foi essa que me tornei? Não demorou e eu já estava terminando, pra voltar pra sala de novo, morrendo de saudades do sorriso dela. A propósito, consegui responder minha pergunta feita minutos antes: meu cabelo assanhado e minhas olheiras são apenas as repercussões de eu ter me tornado a pessoa mais bonita que já existia em mim.

A culpa de tudo continua sendo do amor. Que bom poder contar com sua ajuda para crescer, filha.

Por Vitoria de Melo Bispo

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