Eu queria poder te dizer que entendo, minuciosamente, todos os seus detalhes. Principalmente os que mais julguei e critiquei. Especialmente aqueles que eram os motivos dos nossos desentendimentos sérios. Tudo faz sentido agora.
A primeira vez que precisei viajar com minha filha, me vi carregada de malas, como se estivesse fazendo uma mudança e nessa hora eu lembrei do quanto te falava que precisava ser mais econômica com bagagens, que não precisava carregar tanta coisa, mas hoje eu entendo perfeitamente que quando a gente é mãe, quer carregar o mundo ao alcance das mãos pra que nada falte. Pra que os filhos não passem por nenhum apuro. Eu voltaria no tempo e pegaria suas malas sem reclamar, e te diria obrigada por cuidar de tudo.
Dia desses precisei ir ao shopping pela segunda vez desde que sou mãe e me peguei correndo pra fazer tudo muito rápido antes que desse o tempo do peito encher, pra que ela não ficasse com fome, mas, me lembrei que ela já não era mais recém-nascida. E mesmo assim continuei correndo. Lembrei do quanto você tava sempre apressada a troco de nada e o quanto eu reclamava dos teus passos ligeiros. Nesse momento entendi que mães não querem perder tempo nunca. Eu voltaria no tempo e andaria com tanta pressa quanto você, só pra gente poder ficar mais tempo lado a lado.
As vezes em que você dizia que ia embora e que a gente nunca mais te veria, eu voltaria no tempo e, ao invés de te julgar, diria que se acalmasse, porque é perfeitamente normal querer fugir de tudo às vezes.
Mainha, como eu entendo o quanto você se desesperava ao me ver chorar. Como você se preocupava se meus olhos inchados eram cansaço ou tristeza. "Tá chorando?", todos os dias de minha vida ouvi essa pergunta e algumas vezes te respondi com aspereza. Meu Deus, como eu te entendo agora. Que coisa doida é essa que bate na gente quando vê um filho chorar. Toda vez eu apanho. Dói mais que bater o dedinho numa quina. Desesperador ver quem se ama sofrer e não poder acudir. Eu voltaria no tempo e te daria colo, por todas as vezes em que você me viu chorar e sofreu sem ninguém pra te socorrer, porque agora eu sei que meu choro doía bem mais em você do que em mim.
Pouco tempo após ser mãe, deixei (ao mesmo tempo em que não deixarei jamais) de ser sua filha. Ainda não entendo muito bem essas coincidências, mas procuro aceitar todas os dias, em todas as horas que te entendo e me pego repetindo os teus comportamentos e ensinamentos. Você cumpriu com louvor sua missão: Formar uma mãe tão chata, cuidadosa, engraçada, doida, exausta e feliz como você.
Entendo milimetricamente o seu sofrimento quando perdeu seus pais, e eu te pedia tanto pra que deixasse a dor passar. Eu voltaria no passado e te diria que realmente é impossível querer curar uma saudade que não passa nunca. E te abraçaria ainda mais forte assim como abraço minha filha nos dias piores, que é pra ver se ameniza um pouco a saudade de você que me acompanha em todas as horas.
Esse é o primeiro dia das mães onde serei apenas mãe. Coincidentemente é também o primeiro com minha filha nos braços. E como agora eu entendo que dia das mães é todo dia. Porque não há um dia que a gente não mereça ser homenageada. E não há um dia em que eu não pense em você. Todos os dias continuam sendo teus.
Vou usar a desculpa de que não caberia nesse texto falar sobre o amor que envolve tudo isso. Na verdade eu não conseguiria. Assim como antes eu não tinha entendido a dimensão desse sentimento nem por que naquele dia no hospital você me disse que daria a vida por mim e pelo meu irmão. Olho sua neta dormir e sinto: Nunca foi exagero.
Quanta verdade cabe nas orações de uma mãe? "Deus te abençoe", claro que vai, mainha! Porque nunca houve frase dita com mais fé. Obrigada.
Pode ser que você que está me lendo agora não compreenda como é ser governada por um sentimento assim. Não se preocupe:
Algumas coisas na vida a gente só entende se for mãe.
este texto é uma homenagem de Dia Das Mães para minha mãe, Dona Graça.