Eu não me tornei mãe quando ouvi pela primeira vez o coração da minha filha. Chorei de medo, não de emoção. Fiquei me sentindo o ser humano mais estranho do mundo por não sentir nada a não ser medo do futuro. Não foi como eu via nas novelas.
Também ainda não fui mãe quando, após a cesárea, colocaram em cima de mim um bebê faminto, chorando, sem que eu conseguisse sequer me mexer naquele momento. Chorei muito, mas não foi exatamente de emoção.
Não virei mãe na gravidez e muito menos logo imediatamente após minha filha sair da barriga. Nasceu a mãe que eu sou hoje quando precisei abrir mão, por exemplo, do meu repouso total após uma cirurgia de grande porte.
A primeira madrugada pós parto é, também, a primeira sem dormir pra tentar acalmar seu filho. Com a calma que você não possui. É a hora de um segundo parto super doloroso: o da mãe que, mesmo que não morasse no seu interior, nesse momento precisaria nascer de qualquer forma. Foi aí que entendi que ser mãe é mesmo um milagre.
Desde a primeira comida que eu não pude comer, porque tive medo que contaminasse meu leite: eu era mãe mesmo. A festa que não pude ir; O cabelo que não deu pra pentear; A roupa que eu achei que não mais me vestia porque nasci de novo: todas essas circunstâncias me fizeram mãe. Talvez menos bonito do que eu imaginei ou me contaram, mas mais real e visceral, impossível.
Dia desses entrei no chuveiro e agradeci. Sério, agradeci por estar tomando banho. Me emocionei por ganhar aquela água quente na cabeça. Pareço ser muito grata, mas é que sou mãe. Quem diria que o ponto alto do meu dia seria um banho. Quem diria que aconteceria todos os dias.
É irreal amar desmedidamente a pessoa que me causa todo esse transtorno. Cara, eu nunca sonhei que o amor da minha vida me impediria de ir ao banheiro a hora que bem desse vontade. Mas aconteceu: sou mãe.
Não é absurdamente louco que hoje eu tenha almoçado às 15:30h e olhe pra esse serzinho que agora repousa no meu colo e pense: Deus, numa honesta, muito obrigada, não há o que se compare com esse presente.
Sou muito mãe quando acordo instintivamente de madrugada pra conferir se tá tudo ok. Amamento dormindo sentada. No dia seguinte não sei contar quantas vezes essa cena se repetiu. Estou exausta, mas quando ela me acorda, só consigo ser feliz por tê-lá mais um dia.
Em 2015, planejei várias viagens pra 2017. Hoje, ir até a padaria sozinha e voltar em quinze minutos é praticamente uma expedição. Ah, nem durante esses 15 minutos eu consigo deixar de pensar nela. E chego morrendo de saudade. Você pode pensar que é exagero, poderia até ser, mas é nessa hora que confirmo: sou mãe.
Ainda não descobri se gosto do meu atual ofício. Até agora só sei que não há viagem mais emocionante, não há aventura que se compare ao que sente meu coração quando vê o sorriso de dois dentes que recebo todas as vezes que abro a porta da minha própria casa.
Claro que o paraíso é aqui.