Métodos contraceptivos falham, prova viva disso é essse neném
Cora, minha filha, venceu o anticoncepcional e está aqui não só contando a história, mas também usando Babybeh E sabemos que inúmeras mulheres engravidam de forma indesejada. O aborto no Brasil é extremamente criminalizado e, dessa forma, a história parece se repetir em vários casos: algumas mulheres optam, com muito medo, pela escuridão das clínicas que realizam abortos de forma ilegal (muitas, inclusive, não resistem ao procedimento) ou levam à frente suas gestações e tornam-se mães. Ainda que não tenham sonhado com isso, ainda que tenham se protegido pra isso não acontecer. A segunda opção foi, por exemplo, o meu caso. Mas esse não é exatamente o assunto desse texto.
Por outro lado, a maioria ainda é representada por mulheres que desejam e sonham com a maternidade. Essa é uma grande questão a ser discutida. De onde vem esse desejo de ser, a todo custo, mãe?
Comecei a me questionar sobre isso após perceber uma certa tendência de uma menor doação de mulheres que conheço no trato cotidiano com seus bebês, mesmo que tenham programado esses filhos . Não houve muito entusiasmo com a amamentação. De madrugada, quem socorreu o bebê chorando muitas vezes foi a avó ou o pai da criança e entre tantos outros gestos que não merecem ser julgados, mas sim compreendidos.
Muitas dessas mulheres, incluindo as mais esclarecidas, associam a maternidade a uma ideia de plenitude, de completude, quando, na verdade, isso precisa ser resgatado de outra forma dentro delas. A maternidade vem através da busca por um amor jamais sentido e, às vezes, o desejo vem como um desafio de provar pra si que é capaz de gerar e sustentar outra vida (isso pode ser explicado por nossos ancestrais, a questão do endeusamento das mulheres mais "férteis"). Mas, sobretudo, acredito que isso parte fortemente de uma coisa: a romantização da maternidade. O bebê lindo na campanha de dia das mães da marca de cosméticos.
A pressão da sociedade sobre a mulher também não é menor na hora em que ela opta por simplesmente não ser mãe. Da família ao estado. Até sua saúde é posta em cheque. Explico: quando uma mulher não engravida, logo começam os questionamentos acerca da sua saúde e fertilidade. Burocraticamente falando, a sociedade não está preparada pra lidar com mulheres que não desejam parir.
E isso não é somente preconceito. Experimente tentar fazer um procedimento de laqueadura sem ter filhos. Você provavelmente encontrará inúmeras barreiras (mesmo que queira pagar pelo procedimento), sob a desculpa de que é uma decisão definitiva demais pra ser tomada. Mas, ao fazer uma plástica, uma tatuagem, ou qualquer outro procedimento invasivo e definitivo em seu corpo, não faltarão opções de profissionais qualificados.
Todas essas circunstâncias, juntas, fabricam mães que não têm a menor aptidão pra serem. Não adianta idealizar ser mãe se não for pra passar perrengue 70% do seu tempo por maior que seja sua rede de apoio (pelo menos enquanto seu filho é totalmente dependente de você).
Não sonhe ser mãe se você não se sente capaz de ressignificar suas prioridades, importâncias e reclassificar suas intensidades, como, por exemplo, aprender a ser a pessoa mais feliz do mundo, mas apenas em algumas horas pontuais do seu dia. O jogo se inverte e se antes você tinha plena liberdade, quando mãe, por um bom tempo, isso deixará de existir. Não faça isso com você mesma caso essa ideia te apavore.
Tá tudo bem em não querer ser mãe e muitas mulheres não dão conta disso. Acabam sedendo à pressão ao seu redor por achar que ser mãe é menos difícil que aguentar as cobranças e questionamentos pelo resto da vida. O resultado disso é, cada vez mais, mulheres a um passo de um surto, com níveis altíssimos de estresse e extremamente infelizes e culpadas após se tornarem, finalmente, mães.
Que um dia possamos ter a chance de decidir sem sermos crucificadas absolutamente tudo que queremos tão somente fazer das nossas próprias vidas. Hoje, enquanto mãe, o que eu mais desejo a outra mulher é coragem tanto para ser, quanto para não ser o que ela quiser.