Barriga redondinha, peitos volumosos, cabelos incríveis e aquele glow que só uma mulher grávida tem. Estamos radiantes, plenas, com roupas esvoaçantes e tiaras de flores, realizadas à espera do nosso maior presente.
Já no final da gestação, o bicho começa a pegar pro nosso lado. Ficamos grandes, pesadas, doloridas, suando o tempo inteiro e nos revirando na cama noite após noite até o dia do parto. Depois que o bebê chega, a gente vira noite, vara o dia, aquela ocitocina a mil por hora e nem repara na passagem do tempo.

Quando finalmente a gente se vê no espelho, dá de cara com uma versão amalucada da gente: cabelo sujo há dias, eternamente preso num coque, olheiras infinitas, camisola manchada de leite e lágrimas – da cria e suas, porque nem tudo acontece como a gente sonha.
Com um recém-nascido em casa, os dias de salão de beleza são uma lembrança distante. E mesmo se você é como eu, que não gosta de salão, mas se diverte cuidando de si mesma em casa, bem, a realidade é a mesma e passa bem longe do que costumava ser.
Mesmo depois de um tempinho considerável, ainda parece que você tá grávida de 5 meses, com aquela barriguinha saliente. A depilação já ficou de lado, os cabelos brancos vão tomando conta e tintas, descolorantes, químicas pesadas são desaconselhadas. Nem um perfuminho é permitido.
Seis meses de amamentação exclusiva e tantas restrições na nossa rotina de cuidados, como é que a gente fica? Mal. Nunca me percebi tão velha no espelho. Sabe o sono da beleza? Não tem. Pra completar, quando o ritmo das mamadas vai caindo, caem também o volume e a firmeza dos peitos. Seu relacionamento pede socorro, mas como fazer qualquer coisa quando a primeira que se vê à beira do precipício é você mesma?
Reconstrução. Desconstrução de quem a gente era, da nossa imagem de antes, e a construção de uma nova. Todo dia a gente aprende um pouquinho a amar o corpo novo, o cabelo novo, o peito novo. O nosso corpo é o único que a gente tem, e se ele ganhou estrias, celulites ou rugas foi um processo natural e acompanhado de muito amor, o amor por um filho.
Outro dia, tava pensando sobre este primeiro ano de maternidade e como tenho poucas fotos com minha bebê. Eu percebi que eu não me deixei fotografar. A gravidade do que aconteceu com a minha autoestima só ficou clara pra mim quando, semana passada, disse em voz alta que não gosto de tirar foto sem maquiagem porque me acho feia.

Com essa bobagem de só tirar foto arrumada, um ano se passou, e eu perdi registros espontâneos de momentos especiais ao lado da pequena. Quando ela crescer, que for olhar os álbuns, vai ver várias fotos incríveis com o pai, flagras do dia a dia, da vida real, cheios de histórias que vão ajudá-la a construir suas memórias de infância. Eu? Vou estar lá, sempre arrumada, mas sem muito pra contar: a mamãe se arrumou, e a gente saiu para passear e tirar foto.
Eu mereço mais, minha filha merece mais. Demorei, mas entendi. E, a partir de hoje, não vou mais ter medo da câmera. Não vou mais me achar feia e indigna. Com ou sem maquiagem, com ou sem olheira, de cabelo escovado ou de coque, a vida é incrível, cada momento é único e não dá pra deixar tudo passar por falta de amor próprio. Vamos nos amar!

Postei essa foto e comentaram que eu estava acabada. Não imaginam o mal que me fizeram...
P.S.: Se você tem uma amiga, uma parente, uma esposa que é recém-mãe, procure ajudar nessa reconstrução da autoestima dela. Elogie o que conseguir, convide para um dia especial e nunca, nunca ressalte o que está diferente, "piorado". Postei uma foto no Facebook com 10 dias de maternidade. Estava me achando linda, mas uma pessoa comentou que eu estava acabada e com muita cara de cansada, que esperava que minha mãe pudesse ir logo me ajudar com o bebê porque eu realmente estava precisando. Por favor, não seja essa pessoa. Obrigada.