Nunca pensei que fosse ser uma mãe BLW. Na gravidez, sempre ficava achando graça dessa maternidade moderninha, cheia de termos, teorias e métodos que nossos pais e avós nunca ouviram falar, mas que não os impediram de ter e criar filhos – criação com apego, doula (que é diferente da parteira, essa, sim, tradicional), e, claro, o tal BLW.
A sigla vem do inglês baby-led weaning, algo como desmame guiado pelo bebê. Resumindo bem resumidinho, esse é o método de introdução alimentar sem papinha. O caminho parece esquisito, mas, na verdade, é bem natural. Em vez de você fazer uma comida separada pro bebê, amassar com o garfo e alimentá-lo às colheradas, você oferece a comida da família (prepare sem sal, mas com temperos naturais) em pedaços, separadinha, para que ele mesmo escolha o que quer e coma sozinho.
O método é ótimo para dar autonomia ao bebê, ajudar a desenvolver a coordenação motora, estimular os sentidos a cada refeição (visão pelas cores diferentes dos alimentos, tato com as texturas de cada um, paladar, porque ele vai saber exatamente que sabor tem cada comida e assim por diante). A hora de comer vira brincadeira, experiência e descoberta. Sem contar que é uma mão na roda pra ir testando novos alimentos aos poucos pra saber se há algum tipo de reação alérgica.
Dicas da nutri
Fui com a Penélope na nutricionista Islanne Leal (em Fortaleza), e ela orientou a gente a cozinhar os legumes no vapor, pra não se perder nenhum nutriente. Também disse que é bom começar a introdução alimentar pelos legumes e não pelas frutas, porque os legumes podem ser mais difíceis por terem sabores mais complexos que o docinho das frutas. Ela me deu um monte de receita de papinha, mas a Penélope apenas é tão independente (e teimosa) que raramente aceita que a gente coloque uma colher na boca dela. Come uma, duas e para. Aí fomos pro BLW e estamos assim até hoje.
Não tem dentinhos ainda? Não tem problema. A gengiva é capaz de cortar alimentos molinhos, cozidos.
Quando começar o BLW?

Um sinal de que o bebê está pronto pra iniciar a introdução alimentar é se ele já se interessa pela comida dos adultos. Se olha muito, se pede, se tenta pegar, pronto. Vai e arrasa.
O BLW pode começar a ser praticado a partir do momento que o bebê consegue se sentar com firmeza. É assim que ele deve ficar em todas as refeições, para evitar engasgos.
E se engasgar? Desde os 6 meses Penélope só come assim e nunca engasgou. Na verdade, há mais possibilidade de o bebê engasgar com um adulto colocando comida na boca dele, porque ele pode não ter terminado de engolir ou a quantidade pode ser maior do que a que ele precisa naquele momento. Quando o pequeno tem controle do que vai até a boca, ele sabe a hora que terminou de mastigar, de engolir e, se for demais, ele mesmo vai botar pra fora. E se o alimento for descer errado, o bebê tem um reflexo chamado reflexo de gag que se encarrega de organizar tudo na boca. ATENÇÃO: Se a tosse demorar mais de 10 segundos, não conseguir chorar e começar a ficar vermelho, pode estar havendo um engasgo, então aprenda a fazer a manobra para desobstruir as vias aéreas do seu filho.

Afinal, como fazer o BLW?
A partir dos 6 meses, o bebê consegue manipular muito bem os objetos. A apresentação dos alimentos deve ser adaptada para que ele segure bem e consiga colocar na boca. Por exemplo, a cenoura em rodelas não funciona para essa idade, porque exige um movimento mais fino, de pinça. Mas a cenoura em palitos é perfeita. Aquela cenourinha baby também é ótima.
O brócolis é perfeito pro BLW. A criança segura no talo e come direitinho a florete. Batata doce, macaxeira, inhame, batata inglesa, beterraba, tudo o que puder virar palitinho vira palitinho no vapor.
Conforme a coordenação motora vai evoluindo, dá pra irem sendo adicionados novos formatos, como os cubinhos e ralados.

Como a ideia é seguir a rotina alimentar da casa, se os pais comerem carne, frango e peixe, também podem adicionar ao prato do bebê. Dê preferência a carnes magras, como músculo e patinho. No início eu usava carne moída para fazer umas almôndegas compridinhas, tipo palito. O frango pode ser desfiado. Enfim, pedaços que o bebê consiga segurar e cortar. O ideal é pesquisar bastante e consultar nutricionista!
Aqui vão algumas dicas preciosas:
1. NUNCA deixe seu bebê comendo desacompanhado. O BLW é seguro, mas a gente, que é adulto e tem experiência nisso de se alimentar, às vezes engasga. Pode acontecer com ele também
2. O prato é dispensável no início do BLW, assim como os talheres. Disponha os legumes na mesinha do cadeirão de alimentação de forma ordenada, para que o bebê veja as cores e escolha. Colocar um prato é pedir pra ele levantar e derramar tudo no chão, porque bebê é curioso, tá descobrindo o mundo e quer saber o que tem debaixo do prato. Prato e colherzinha vão entrar mais tarde, naturalmente, na vida do seu filho
3. Tenha paciência e dê tempo para o bebê comer. Ele vai comer um pouco, parar, brincar, depois voltar a comer. O bebê ainda não entende que comida sólida é tão alimento quanto o leite materno (ou artificial). Ele ainda associa saciar a fome ao líquido, não ao sólido, então essa alimentação que está chegando é justamente uma introdução, não deve ainda substituir a amamentação. Esse desmame vai acontecer aos poucos, e o bebê que vai guiar (alô, baby-led weaning!), tendo cada vez mais interesse pelas nossas comidas e tendo o peito mais como um porto seguro do que como alimento.

4. A sujeira é meio punk, sim. Procure um babador grande, comprido, de preferência com mangas longas se não quiser ou não puder dar banho no bebê depois de todas as refeições. Também fica mais fácil a vida se você colocar um tapete plástico debaixo do cadeirão, melhor do que limpar o chão, hehe.
5. Apesar desse trabalho que dá pós-refeição, vale muito a pena fazer BLW porque não mexe na rotina da cozinha da casa (a pediatra e a nutricionista liberaram a Penélope pra comer quase tudo, desde que sem sal e sem açúcar) e, quando almoçamos fora, não precisamos levar papinha, ela come a comida de onde a gente estiver. Num self-service, sempre tem legumes cozidos, frutas da estação e grelhados, por exemplo.
6. Ah! Ainda tem a parte supergostosa de desde cedo o bebê sentar junto com a família à mesa e todos comerem juntos. Cresci vendo meus primos pequenos almoçando separados, as minhas tias comendo frio e depois de todo mundo porque primeiro iam alimentar os filhos. Aqui a gente vai comendo, e a Penélope come muito melhor quando vê que a gente tá ali fazendo a mesma coisa.
Não sou especialista em alimentação, só sou uma mãe que tenta fazer a filha comer da melhor maneira possível. Se quiser conversar comigo, trocar uma ideia, tirar alguma dúvida, posso compartilhar mais detalhes da minha experiência aqui nos comentários. =)