Ilustram este post as tirinhas e tiradas da Mãe Solo (links no final)
Sonho, vontade, relógio biológico, instinto. Não faltam motivos para quem quer, um dia, se tornar mãe. Os anos passam, (às vezes) você se programa, e, de repente ou finalmente tem um bebezinho no seu colo 24 horas por dia.
Logo no início, vem o choque de realidade. É a mamada que não dá certo, é o peito que dói, é a noite que não é dormida. Naturalmente, sua vida não é mais sua. Você não está mais em primeiro lugar.

A mulher que você era parece ter deixado de existir, e você luta para não virar apenas uma lembrança de si mesma. Tenta lavar ali o cabelo de vez em quando, passar um tonalizante pra esconder os fios brancos, botar um batonzinho nas raras saídas. Espreme um evento entre sonecas, pega o computador naquela meia horinha depois de alimentar, banhar, trocar e ninar a cria.

Cada nova conquista do bebê é cheia de alegria: sorrir, rolar, sentar, andar. Ser mãe é incrível e certamente a maior aventura que eu poderia ter na vida. Sou feliz e sou triste, sou completa e incompleta. E com certeza não sou plena. Mas vai lá buscar na internet a experiência de outras mães, que quase todas elas vão dizer que se encontraram depois dos filhos.
Enquanto muitas se encontraram, eu me perdi. Vivo um dia atrás do outro procurando ser a melhor mãe que posso ser, oferecendo todo o amor, toda a atenção, todos os abraços, beijinhos e carinhos, as melhores frutinhas, os melhores legumes orgânicos.

Pesquiso sobre desenvolvimento, crescimento, aprendizagem, aquisição da linguagem, socialização. Planejo passeios no parque, visitas à fazendinha pra ela ver os bichos e, agora que vamos nos mudar pra uma casa nova, já sei que vamos ter uma cama que cresce junto com ela e sonho com os dias de verão no nosso novo quintal.

Mas aí chega a hora de dormir, coloco a cabeça no travesseiro e me pergunto onde estive o dia todo. A filha está 100%, a mãe, com bem menos que isso. Cansada, assanhada, dor na coluna, peitos murchos, cara de bolacha, ainda procurando aquele tempinho pra lavar o cabelo e tirar o esmalte descascado das unhas. Clientes esperando respostas, eu me fazendo perguntas.

Quando me perdi de mim? Quem é essa nova pessoa? O que ela almeja? Do que ela precisa pra ser feliz consigo mesma, para além da maternidade?
Já faz um ano que nos conhecemos, mas ainda não nos encontramos, o meu eu do passado e o meu eu do presente. Impossível colocar nessa relação tão conturbada o meu eu do futuro. Quero ter outro filho? Quero voltar a estudar? Com o que quero trabalhar, afinal?
A maternidade real é cheia de conflitos.

Tornar-se mãe é entrar em um período sabático de si mesma. E tá tudo bem.
(Ilustram este post as tirinhas e tiradas maravilhosas da Mãe Solo, que tem Facebook pra curtir, Instagram pra seguir e livro, camiseta e pôsteres pra comprar)