Puerpério. É de se admirar o quanto ainda se fala tão pouco (ou nada) sobre isso. Seis meses após o nascimento da minha filha, me vejo capaz de relatar minha experiência. Gostaria muito de ter sido preparada antes. Como não fui, resolvi escrever uma carta do futuro para mim no puerpério e divido com todas as gestantes e puérperas a fim de que elas possam se entender um pouco melhor:
"Descansar", você ouviu muito essa palavra se referindo à sua hora de parir. Porque a barriga, ao final da gestação, pesa bastante e seu corpo pede socorro. Você precisa descansar, eu sei. Mas nasceu um bebê. Chorando, com fome e querendo apenas aquilo que já conhece: a mãe, que no caso é você, que está exausta.
Você não se sente exatamente mãe apenas porque seu filho saiu de sua barriga. Isso é normal. Calma, por favor, não se sinta cruel. As pessoas realmente esqueceram de te falar sobre isso e as fotos mágicas de um pós parto absolutamente realizador e incrível que você viu na internet, muitas vezes escondem uma mulher com o coração miudinho, aflito e apenas querendo duas horinhas seguidas de descanso. E você precisa descansar, eu sei.
Talvez hoje ainda não tenha dado tempo de tomar um banho, escovar os dentes, ir ao banheiro, comer. Existir como indivídua, como quem sempre foi. Porém, de repente, você agora é mãe.
Disseram que quando seu filho nascesse, você seria tomada por um amor incontrolável, uma paz interior jamais sentida, um conforto de entender finalmente por que razão você veio ao mundo. O momento mais feliz da sua vida.
Falando aqui do seu futuro, você ainda vai sentir todas essas sensações. Garanto. Agora tudo que você quer é entender só um pouco essa revolução. Entender como acalmar o choro do bebê que não cessa, mesmo você já tendo feito tudo que disseram pra fazer. Sim, porque bebês devem nascer com manual de instruções, você deve estar se culpando muito por ser tão desastrada e ter perdido o seu, pois agora todo mundo sabe como fazer o seu bebê parar de chorar, exceto você. Que precisa, urgentemente, descansar, eu sei.
Você chorou de sono essa madrugada, não houve quem te acolhesse. Ninguém entende por que você chora quase o equivalente ao choro do seu bebê; ninguém sabe por que você não está radiante. Ninguém. Nem você mesma. Porque nos seus sonhos, não era assim. Mas eu queria te pedir que você tivesse apenas calma. Respire.
São 03:45 da manhã, tem um bebê pendurado no seu peito machucado, e você deve estar pensando: "Eu não vou dar conta". E amanhã ainda ficou de vir uma visita. Mas eu quero dizer, aqui do futuro, que você vai. E vai dar conta sozinha. Você não faz ideia do quanto é forte. Acredite.
Na verdade, não existe nada de anormal em sentir essa melancolia excessiva, em se sentir mais triste do que feliz a maior parte do tempo. Aqui do futuro, apoiada e compreendida por outras mães, vejo o quanto é raro que isso não aconteça. Você conhece alguém que não se sentiu assim como você se sente agora? Que demais! É uma exceção.
Gostaria de te pedir que peça ajuda. Não se tranque. Você não está louca e quando menos esperar, a tristeza do luto pela mulher que morreu para que nascesse quem você se tornou, dará lugar à imensa alegria que é ser a melhor mãe do mundo.
Escrevo essa carta com sua filha de seis meses no colo. E queria te dizer que você conseguiu. Que você consegue, bravamente, todos os dias. Você é a mesma mulher de sempre, e nascerá de novo quantas vezes preciso forem. O babyblues é uma fase necessária para a construção de quem você é agora.
Queria te dizer também que você continua precisando descansar, pois é. Isso talvez não mude, mas você aprenderá a tirar isso de letra, eu prometo. Seu corpo é outro, sua resistência também.
Não muda também a saudade avassaladora que você sente do seu bebê enquanto ele dorme por mais de três horas seguidas e você, mesmo que pareça um soldado sobrevivente ao final da guerra, só consegue ainda ficar aí, exatamente do jeito de sempre: contemplando.
É uma doideira amar assim. Você vai ver.
Continua sendo a cena mais linda do mundo vê-la dormir.