Você já deve ter percebido: a gente está sempre aprendendo. Mas já reparou como poucos são tão bons em ensinar quanto as crianças?
Comecei a perceber isso há 5 anos, após o nascimento da minha sobrinha. Isabela é filha do meu irmão mais velho, um dos meus melhores amigos. Eu e o Isaias somos próximos desde pequenininhos. Com apenas 1 ano e 1 mês entre a gente, não podia ser diferente. Crescemos compartilhando as experiências de infância e aprendendo juntos sobre quase tudo que importa.
amor antigo
É natural então que sua filha fosse ser importante pra mim. Mas, quando a vi pela primeira vez, ainda um feijãozinho no ultrassom, não poderia imaginar as proporções da ligação que eu teria com a Isabela. Brinco sempre que nosso amor é de vidas passadas. Sabe aquelas pessoas com quem você se sente tão à vontade que parece conhecer há séculos? Pois é assim com ela.
Quando ela nasceu, eu estava numa época difícil, tentando ser diferente de quem eu realmente era pra agradar alguém que nem merecia. Mas quando a Isabela começou a mostrar seu apreço por mim e a dizer coisas como: “Tia Lulu, quero ser sua amiga pra sempre”, “Tia Lulu, amo você do jeito que você é” ou “Tia Lulu, amo você desde que eu estava na barriga da minha mãe”(❤)... quando isso aconteceu, eu comecei a ver que sim, eu era boa como eu era. Eu podia ser simplesmente eu - e isso era bom. E é justamente o primeiro aprendizado que se pode ter com uma criança: seja simplesmente quem você é. Elas mesmas são apenas elas mesmas, ué, e mostram que a gente também pode ter esse privilégio.

ela e eu, sendo quem realmente somos
Nessa mesma época, eu costumava ser bem mais séria, durona. Achava lindo ser trevosa. A convivência com minha sobrinha foi me trazendo leveza. Aos poucos, fiquei também mais criativa. Como conviver com uma criança se você não tiver criatividade? Com a Isabela, aprendi a ser boba. Corro, pulo, danço, sou princesa, bruxa, jacaré, monstro. Transformo facinho uma bijuteria numa joia preciosa, um lençol em vestido de festa, uma rede em avião em turbulência. Lição número 2: sua mente é tão grande quanto livre, e leva você pra onde você quiser.
Hoje, bem menos durona, tenho duas paixões: yoga e meditação. São atividades capazes de trazer a gente pro aqui e pro agora. É incrível, mas não vou mentir: é DIFÍCIL. A mente gosta de passear e leva a gente o tempo todo pro passado ou pro futuro. Observando a Isabela, pude ver que as crianças não têm arrependimentos ou anseios. São o que são, nesse exato momento, nesse exato lugar. Vem aí a terceira lição: uma vida leve, no tão sonhado aqui e agora não é algo que você precisa aprender, mas sim apenas resgatar. Como tantas outras habilidades que a gente acha que não tem, essa é uma que a gente esquece quando cresce.

"vamo brincar de meditar?"
Ao criar laços afetivos com uma criança, vi quão delicado é o amor. Amar é doar um pedacinho seu pra alguém, e quando uma criança te ama, você precisa ter cuidado com o que ela te doou. Precisa olhar como você se porta, porque ela vai tomar você como exemplo. Precisa estar lá quando ela precisar. Precisa ter cuidado pra não machucar, não descartar o brilho no olhar que só os pequenos conseguem ter. A última lição, como as outras três, não é nova, mas é daquelas verdades óbvias que às vezes a gente esquece. Amar é ter responsabilidade com o outro.
Por isso, se você puder, aconselho: na próxima vez que estiver com uma criança, esqueça sua pretensa autoridade de adulto. Esqueça o que acha que sabe. Abra os olhos e observe. Você tem muito para aprender.