Ainda na gravidez, me preparei física e psicologicamente para a amamentação. Pesquisei muito sobre, tentei preparar os mamilos com pomadas e exercícios, já que quase não os tinha. Passei no mínimo três meses numa preparação intensa e estava ansiosa e confiante ao mesmo tempo.
Qual não foi minha decepção ao descobrir que todos os relatos de que amamentar era algo muito difícil e doloroso eram, de fato, mais reais do que eu imaginei? Algumas horas após uma cesariana, imóvel, Cora volta do banho e a jogam em cima do meu peito, de qualquer jeito mesmo. Era a tão esperada hora de amamentá-la.
Começou nesse momento a batalha da amamentação. Na primeira pega incorreta, meus dois mamilos foram completamente machucados. O que acontece com algumas pessoas após as primeiras mamadas, aconteceu comigo logo de cara, na primeira. Não bastasse as dores pós parto, eu tinha, mais rápido do que pensei, dois peitos sangrando. Por água abaixo toda minha preparação e os quilos de pomada de lanolina que passei todos os dias durante uns noventa dias antes do nascimento da minha filha.
Costumo dizer que quando nasce uma mãe, renasce uma fé. A gente passa a acreditar em superstições, mandingas, lendas, receitas antigas. Foi com essa fé que decidi não desistir da amamentação exclusiva de Cora. Mas montou-se uma rede de apoio à minha possível desistência. Começando de quem menos deveria: a pediatra que a atendeu na maternidade. "Olha, você não vai dar conta, é melhor dar a fórmula pra ela porque senão ela vai ficar com fome, você não vai conseguir deixar ela muito tempo no seu peito e isso não vai estimular o seu leite descer". Apenas concordei e até comprei a fórmula, mas, em casa, Cora tomou uma única vez e eu decidi que tentaria mais.
Lógico que teria sido bem menos doloroso desistir. Cada um sabe até onde vai. Fato é que mesmo não tendo sonhado ser mãe, quando decidi ser, me prometi que não aceitaria não dar o melhor alimento pro meu bebê e, pela bondade divina, por uma genética abençoada, por sorte ou simplesmente pela ordem natural das coisas desde que o mundo é mundo, consegui.
Completamos seis meses de leite materno em livre demanda e me sinto no direito de comemorar não porque sou mais mãe do que as que não amamentaram por qualquer motivo, sim porque me venci. E venci também as pessoas que me amavam e, vendo meu sofrimento, disseram que não teria problema algum eu desistir. Que ela seria saudável do mesmo jeito.
Exceto minha mãe, que desde a gravidez me conscientizou do quanto eu poderia fazer exatamente o que quisesse. Que eu conseguiria amamentar, que eu conseguiria não usar absolutamente nenhum outro bico além do meu próprio seio. Ela confiou em mim. E esse mesmo amor de mãe que me fez acreditar que eu podia, também fez nascer o meu primeiro ato de amor materno.
Amamentar é resistir. Desde ao comentário desnecessário de que "seu peito vai cair, viu?" ao preconceito implícito que vem na frase "ela é enorme! Só mama?".
Ao fundo desta imagem, podemos ver um belo exemplar de um bebê que só mama.Até os seis meses minha filha apenas mamou, consumiu o melhor alimento do mundo e, olha que incrível: eu que produzi.
Se você está no processo e resistiu até agora por mais difícil que pareça, não desista pelo que te dizem. Não aceite ouvir que seu leite é fraco, que não alimenta. Não aceite ser menos do que você sabe que é.
Eu já estive aí e garanto daqui que a sensação recompensadora de conseguir é muito maior do que todos os perrengues que você está passando agora.