Cuidar é colecionar histórias: O desafio de ser mãe e pai ao mesmo tempo

Cuidar é colecionar histórias: O desafio de ser mãe e pai ao mesmo tempo

Ser mãe não é brincadeira. Nossa colunista Vitória já contou por aqui como é ser mãe em tempo integral. Mas e quando além de mãe é preciso também ser pai!?

Você sabe que a gente ama histórias. Por isso, vamos compartilhar hoje o relato da Maisa, leitora aqui do blog que tem umas coisinhas pra contar pra gente sobre tudo isso...

"Eu estava em um relacionamento de anos com o pai do meu filho, que praticamente todo dia me pedia para engravidar. Ele é 13 anos mais velho que eu e já vinha de um relacionamento anterior no qual teve 2 filhas. Ele sempre se mostrou um excelente pai.

Em 2015, tive que parar o anticoncepcional e como queríamos ter um bebê, não nos "protegemos". Daí... BUM! Fiquei grávida! Descobri com 2 semanas de gestação. Para mim foi um choque, para ele uma alegria.

Tudo ia bem, até que no 3° mês, sem explicação nenhuma, ele me abandonou. Sumiu! Só voltou a aparecer no 8° mês de gestação e mesmo assim, não demonstrando muito interesse pelo filho.

Quando Pedro nasceu, o progenitor apareceu na maternidade, registrou a criança e esse foi o único gesto que ele teve em relação a assumir o filho. Em 9 meses de vida do Pedro, acho que ele o viu 4 ou 5 vezes apenas. Não paga pensão e ainda está me processando para não precisar pagar ou pagar o mínimo possível. Já eu, voltei a trabalhar com 2 meses depois de ter ganhado o Pedro.

 

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Quando penso sobre tudo isso, consigo tirar algumas conclusões e aprendizados.

1. Os filhos nos dão um força que nem imaginávamos que tínhamos.

2. Talvez essa não seja a família que eu sonhei em dar pro meu filho. Mas vou fazer dela a melhor família do mundo!

3. Assumi a paternidade sem qualquer tipo de vergonha. Faço o que posso para tentar fazer o pai do meu filho criar um vínculo com ele. Mas nesse processo, entendi que o amor verdadeiro é espontâneo, não se pode obrigar alguém a amar... Faço minha parte e estou 100% em paz com minha consciência. Realmente não é fácil.

4. Sou pediatra, e ouço diariamente mães se martirizando porque têm que trabalhar. A meu ver, isso não deveria acontecer. Sou alucinada pelo meu trabalho e muito mais pelo meu filho. O fato de amar um não significa que seja ruim amar outro. Além de precisar trabalhar, pois o sustento do meu filho depende tão somente de mim, quero ser um exemplo para ele. Quero que ele olhe pra mim no futuro, com os olhos brilhando e, com o perdão da palavra, diga: "Cara, minha mãe é foda! Me criou sozinha e eu hoje, sou um bom homem.Tenho orgulho de ser filho dela!"

5. Aprendi e vivo na prática algo que sempre falo para as mães dos meus pacientes: quando se trata de convivência com um filho, qualidade é diferente de quantidade! Posso não estar presente o dia todo com meu filho, mas sei tudo sobre ele: se comeu, o que e que horas comeu, se fez as necessidades ou não... Enfim, tudo! E mais importante: quando estou com o Pedro, minha atenção é exclusiva para ele! Nem no celular eu coloco a mão e se eventualmente o faço... lá vem escândalo! =D Nosso tempo junto é de qualidade e é isso que importa.

Existe uma máxima que diz: quando nasce um bebê, nasce também uma mãe e junto, uma culpa. Pois bem, se a culpa nasceu junto com essa mãe aqui, certamente foi descartada junto com a placenta do meu filho! Não tenho nenhum sentimento de culpa por ter que trabalhar.

Quando olho para trás, nestes 18 meses - 9 gestação + 9 de vida do meu filho - só sinto orgulho por mim e pelo Pedro, por estarmos saindo ilesos de tudo isso. Minha gestação, apesar de super conturbada por essa situação, foi incrível! Amei estar grávida, é uma sensação única.Nunca na vida me senti tão linda e plena como me senti quando estava gestante.

No lugar de culpa, o que existe é gratidão por poder ter a bênção de fazer algo que amo e nomo fruto disso, tirar o sustento do meu Amor maior. E sei que só consegui tudo isso porque tenho uma família incrível, que me deu todo apoio e estrutura que precisei. Também sou eternamente grata por isso.

Sou mãe e pai ao mesmo tempo. Como pediatra, sei que a figura masculina faz falta. Mas sei também que as crianças têm uma capacidade incrível de se adaptar e se refazer. Sei também que é melhor não ter algumas presenças do que tê-las às custas de traumas maiores ou péssimos exemplos pras crianças.

E, acima de tudo, sei que sou forte o suficiente para assumir quantos papéis forem necessários na vida do meu filho."

 *Maisa de Andrade é pediatra em São Paulo, pai e mãe do Pedro, com muito orgulho.

Por Maisa de Andrade

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